06 fevereiro 2009

"O líder globalmente responsável – Uma Chamada para a Ação"

Compartilho abaixo iniciativa da FDC - Fundação Don Cabral, na disseminação da convocação da comunidade empresarial para engajamento no processo de construção da nova sociedade. Preciso e inspirador!

"Segue o Manifesto que o GRLI (Globally Responsible Leadership Initiative) decidiu lançar neste momento de crise mundial. O GRLI é uma única comunidade global de ação e de aprendizagem, constituído por organizações (os sócios) que trabalham individualmente, em pares e coletivamente, cuja missão é promover e apoiar o desenvolvimento de criar uma próxima geração de líderes globalmente responsáveis. É criada como uma fundação de interesse público, com sede na Bélgica. No Brasil, tem o apoio da Fundação Dom Cabral no desenvolvimento de seus trabalhos acadêmicos."

"A competitiva economia de mercado, nosso atual modelo de desenvolvimento, vem demonstrando uma criatividade contínua, ao mesmo tempo em que vem ocorrendo uma turvação progressiva de sua conexão com o bem-comum global, e uma perda significativa em nossa capacidade de regular o modelo. Se não houver uma profunda transformação, tal modelo, até então bem sucedido, corre o risco de se tornar insustentável, e de perder sua legitimação moral e política. Convidamos líderes de negócios, de políticas, da sociedade civil e da educação a se unirem a nossos esforços de catalizar este processo de mudança. O sistema, como um todoA competitiva economia de mercado apresenta muitas vantagens: criatividade, produtividade, potencial de crescimento e flexibilidade. Empreendedorismo e inovação estão no coração deste sistema. Em uma economia de mercado, a empresa é o agente da evolução técnica e econômica. Por um longo tempo, presumiu-se que as ações da empresa, automaticamente, se prestavam ao bem-comum, graças às virtudes do mercado, e à sua famosa “mão invisível”. Hoje, esta conexão está se tornando bem menos nítida. A globalização, o crescimento da tecnologia da informação e a ausência de uma regulamentação mundial conferem às empresas um poder – e uma liberdade – para agirem, sem precedentes. Algumas empresas exercitam este poder de acordo com seus próprios critérios: lucratividade, competitividade e valor aos acionistas, freqüente e crescentemente em um curto prazo, impulsionadas pelas exigências de relatórios trimestrais de analistas financeiros. Essa lógica tornou-se dominante. Ela nos impôs um modelo de desenvolvimento cujo único propósito é o seu próprio dinamismo e efetividade. Guiado unicamente pela lógica instrumental, o modelo se torna crescentemente ambíguo e paradoxal. Ao mesmo tempo em que produz mais riquezas do que nunca, e assegura um crescimento sem precedentes, ele polui, exclui e freqüentemente encoraja a opressão e a injustiça social. Ele promove uma corrida desesperada, que não mais apresenta um objetivo visível, ou raison d’être, além do valor ao acionista a qualquer preço. Esta medida, por seu curtíssimo prazo, não mais reflete o verdadeiro valor de uma empresa em termos de sua contribuição para a sociedade. Ao tornar-se global, o nosso modelo de desenvolvimento revelou seus limites e contradições. Sua extraordinária capacidade de criação de riquezas, seu dinamismo internacional e empreendedorismo estão produzindo efeitos colaterais sistêmicos não desejados, que preocupam muitos e revoltam outros. Devido ao fato de a experiência recente ter demonstrado que o modelo atual não conduz a um equilíbrio que sirva ao bem comum, a GRLI (The Globally Responsible Leadership Initiative) argumenta que há uma necessidade urgente de se conceber e implementar um modelo de desenvolvimento mais sustentável e social. Esta é a base de nosso chamado para a ação.
Liderança globalmente responsávelA atual crise financeira demonstrou que o ideal de um sistema auto-regulatório nos levou a um fracasso em um nível global, com implicações a longo prazo no desenvolvimento econômico e no bem-estar da humanidade. No coração deste fracasso está a ausência de responsabilidade e de liderança. Precisamos de lideranças mais responsáveis para implementar um modelo mais abrangente para o desenvolvimento sustentável. Isto requer uma profunda mudança nas mentalidades e comportamentos dos indivíduos, bem como na cultura corporativa geral. O que é necessário é que tanto os indivíduos quanto as organizações assumam sua responsabilidade perante o Bem Comum. Uma liderança globalmente responsável exige que a mudança cultural e a evolução nas mentalidades se baseiem na revisão de três áreas: primeiro, na raison d’être da empresa; segundo, na liderança como representante e catalizadora de valores e responsabilidades na organização; e terceiro, na atuação como estadista corporativo para expandir o debate e o diálogo com a sociedade como um todo. 1. Revendo a raison d’être da empresaO objetivo precípuo da empresa é o de contribuir para o bem-estar geral através do progresso econômico. O valor aos acionistas é apenas uma de diversas medidas de desempenho. Ações empreendedoras são definidas em termos de iniciativa, dinamismo e inovação. Temos que retornar ao coração da ação empreendedora, que é a criatividade em um mundo real de bens e serviços, em oposição a uma lógica de pura especulação financeira. Esse conceito de progresso nos permitirá identificar a contribuição específica de uma empresa à sociedade – a função que ela, sozinha, é capaz de cumprir, e que a diferencia das demais organizações tais como governo, sindicatos, universidades, ONGs e outras. Recolocar a economia em uma perspectiva de bem comum requer o exercício de responsabilidade global. Estabelecer os alvos e o objetivo do progresso econômico envolve o alinhamento deste progresso ao contexto maior do progresso social. A economia é apenas uma parte do todo, e não pode dominar a sociedade humana impondo sua visão restrita de equiparação de progresso a crescimento dos lucros. Existem outras formas de progresso, por exemplo, no domínio da cultura, sociedade, política, espiritualidade, educação e saúde. Apesar de o progresso financeiro de uma empresa encorajar alguns deles, ele não abrange todo o campo do progresso humano. Nós também vimos que desvios do sistema atual podem gerar regressão e levar a situações negativas, ou até mesmo destrutivas. Devemos parar de afirmar que, para responder aos desafios globais, temos apenas que acreditar na engenhosidade técnica e indicações do mercado. Devemos parar de alegar que há uma convergência quase automática entre criatividade econômica e o desenvolvimento global da humanidade. A empresa apenas se tornará reponsável ao se comprometer com uma visão totalmente abrangente do progresso social e do desenvolvimento sustentável. É nessa perspectiva que a GRLI apóia a formulação do objetivo dos negócios globalmente responsáveis nos seguintes termos: “Criar progresso econômico e social de forma sustentável e globalmente responsável”. 2. Liderança e adequação éticaLiderança responsável implica embasar as ações em um sistema de valores que reconhece a interdependência societária e o desenvolvimento sustentável a longo prazo. Se a empresa desejar atribuir um significado às suas ações, se ela quiser atribuir um objetivo ao progresso econômico alinhando-o ao progresso social, a ética é essencial para iluminar escolhas difícieis e guiar o comportamento. A questão ética principal de nosso tempo é escolher que tipo de mundo queremos construir juntos, com a imensa gama de recursos que temos à nossa disposição… Os humanos, as sociedades e suas ações constroem – ou destroem – o mundo. Somos responsáveis pelo futuro e pela sociedade que criamos. Esta responsabilidade se torna tanto maior conforme aumenta nossa criatividade, recursos e poder. O conceito tradicional de ética é insuficiente, pois está adstrito às conseqüências imediatas das ações no ambiente que nos cerca. Ciência, tecnologia e globalização impõem questões radicalmente novas que nos forçaram a olhar além desta limitada concepção e levar em consideração a interconexão global.Recusar-se a incorporar a ética ao funcionamento de uma empresa, sob o pretexto de que a economia tem sua própria lógica é o mesmo que se trancar em uma abordagem instrumental (a ideologia de mercado), o que retira da empresa a sua legitimidade social, e pode levar a fracassos espetaculares. A ética não se restringe a convicções ou valores, mas é essencial para a sustentabilidade das companhias a longo prazo. 3. Estadista Corporativo Trata-se da organização como contribuinte ativa para a evolução e para o bem-estar social. A empresa responsável aceita um debate aberto sempre que suas ações possam acarretar importantes conseqüência sociais. Novos tipos de diálogo, que inclui representantes da sociedade civil (tais como ONG´s, universidades, organizações religiosas) e instituições internacionais, precisam ser trazidas à discussão com parceiros sociais e governos. Tal abordagem deve, obviamente, ir além da estrutura nacional. Uma transformação voluntária é necessária, mas não mais será suficiente para melhorar o sistema. Também necessitamos de vontade política traduzida em regulamentações e governança mundial. Ao invés de se limitar a ações de lobby, a companhia responsável participa pró - ativamente na preparação e implementação das normas globais necessárias, em colaboração com todos os interessados. Isto inclui ouvir atentamente e contribuir para o debate público. É neste sentido que os líderes responsáveis devem desenvolver uma nova capacidade de atuação como estadistas.
Conclusão e compromisso com um diálogo criticamente construtivo Ao desenvolver esta necessária mudança cultural, é importante não perder de vista que estamos nos referindo a um processo de questionamentos em andamento, através do diálogo entre vários atores interessados (isto é, o mundo político, atores econômicos, e viabilizadores sociais). Importante também que esta mudança implica repensar, necessariamente, o modo como os líderes de negócios, politicos e sociais são educados e treinados. Concretamente, a GRLI acredita que as escolas de negócios deveriam focar na educação completa da pessoa, como empresários, líderes e estadistas corporativos. Liderança é a arte de motivar, comunicar, conferir poderes e convencer as pessoas a se engajarem em uma nova visão de desenvolvimento sustentável, e a necessária mudança que ela acarreta. Liderança se baseia em autoridade moral. Autoridade moral requer convicções, caráter e talento. Todos que já se engajaram em ações sabem que grandes líderes talvez devam parte de sua autoridade mais às suas qualidades pessoais, que às suas competências técnicas e intelectuais. Esta tem sido uma constante por toda a história da humanidade.À luz de tudo isso, e percebendo a urgência com a qual o sistema em falência precisa ser modificado e adaptado às necesidades humanas em uma economia globalizada, nós, líderes corporativos, escolas de negócios e instituições de aprendizagem chamamos para a ação nos comprometendo a: (1) Melhorar os fatores de mudança que nos ajudarão a implementar um modelo de desenvolvimento mais sustentável(2) Embutir os valores e comportamentos adequados em nossas estratégias e práticas gerenciais (3) Desenvolver uma pedagogia e um currículo que possibilite o desenvolvimento da liderança responsável(4) Trocar inovações, boas práticas e casos em negócios e educação, e compartilhá-los com nossos parceiros e com o público em geral através do desenvolvimento de fóruns para um diálogo crítico e construtivo. Nossa chamada para a ação visa reforçar as forças de nosso sistema empresarial enquanto corrige os defeitos e excessos financeiros deste sistema. Nós nos empenhamos em alcançar isto através do aprimoramento da responsabilidade em todos os níveis."

Este artigo é resultado de discussões em grupo na GRLI, baseadas em três documentos:: “Uma chamada para o engajamento” (GRLI, 2005)“Aprendendo para o amanhã: Aprendizado para a pessoa completa Whole Person Learning’ (Bryce Taylor, Oasis Press, 2006)“Prometeu deve ser acorrentado?” (Philippe de Woot, Palgrave)

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