17 janeiro 2009

Consciência, bem estar e autorealização

Diz o senso comum que a "culpa" é sempre do vizinho. Achamos que o motivo que nos leva a sofrer é sempre externo e justificamos nossas atitudes no outro – aconteceu isso, ele falou aquilo...sem nos darmos conta de que a interpretação de tudo o que acontece ocorre dentro da própria mente.
A mente é uma janela para observamos o mundo. Quando as vidraças estão turvas e bloqueiam a clara percepção, sobram erros de avaliação, dúvida excessiva, ansiedade, medo, angústia, frustração, raiva e até idéias obsessivas. Acabamos presos num ambiente interno conflituoso. Podemos sentir dificuldade de manter o autocontrole, e lidar com as pessoas se torna um desafio.
O corpo sente na pele as conseqüências desta avalanche de sensações – a respiração fica mais curta, acelerada. A musculatura se contrai e uma inquietação toma conta de tudo. Passado o momento, as emoções vão cedendo e acabamos retornando ao nosso estado "normal". Mas parte da tensão sempre fica, e ainda temos que arcar com as conseqüências de nossas ações.
O ambiente profissional nas grandes empresas traz dificuldades ainda maiores no lidar com as situações do dia-a-dia. Desgastes nas relações podem levar a pessoa ao isolamento ou a manter uma máscara fake e desconfortável para buscar aceitação. O condicionamento social a impede de reajir com naturalidade diante de ameaças ou obstáculos. Somado à complexidade das atividades e à pressão por desempenho, tende a alterar constantemente o clima interno - e externo. Quando este contexto é permanente se instala facilmente o stress, que em níveis mais profundos afeta todo o potencial do indivíduo, seu sistema imunológico, vida afetiva e, a longo prazo, pode comprometer a própria vida.
Mas o que fazer? Lamentar e passar a vida criticando os eventos e o comportamento dos outros, depositando grandes expectativas em algo que está fora de nós, só leva à impotência e nada contribui para melhorar o bem estar e a capacidade de nos relacionarmos com clareza e sucesso.
As mudanças em direção a um maior contentamento começam com o auto-desenvolvimento, um processo de (re)tomada de consciência que deve ser relevante para cada um. Com disciplina pessoal é possível adestrar cada aspecto de nosso Ser, começando pela parte mais densa – o corpo -, seguindo pela harmonização da respiração, chegando enfim a clarear a mente. Cada parte de nosso todo afeta uma à outra. Um estado emocional, por exemplo, corresponde a determinado padrão respiratório. Então, podemos acalmar a raiva respirando lenta e profundamente pelas narinas; ganhar mais “jogo de cintura” tornando o corpo firme e flexível; ampliar a visão cultivando a contemplação atenta dos próprios pensamentos, discernindo o que é realidade do que é ilusão.
Praticar uma nova percepção, ampliando a capacidade de escutar o real significado das expressões do outro, nos leva a outro patamar de compreensão, a escolhas mais conscientes, a fazer o melhor uso de nossa própria energia. Esta direção, rumo a um estado de integridade, com presença de espírito e segurança para lidar com equilíbrio nas diversas situações, começa pela decisão de cada um. Todos são dotados de infinita sabedoria interna, criatividade e capacidade de reflexão que podem ser revelados para transformar sua realidade.
É preciso ter disposição - um verdadeiro protagonismo individual -, para remover os obstáculos à clara percepção, que são a causa básica das perturbações. O grande prêmio a ser usufruído é a auto-realização – sensação constante de integração, liberdade, paz e felicidade.


16 janeiro 2009

Sustentabilidade de quem?

A ignorância humana (o “não-saber”), calcada na ilusão da fragmentação, da separação da parte do todo, é a raiz de todos os problemas que nós mortais enfrentamos e nos empurra para uma situação cada vez mais insustentável. É o berço da miséria, da guerra e da destruição do ambiente. Catalisada pela arrogância e pela ganância, coloca em risco a sobrevivência de todo o ecossistema do qual nossa espécie, contrariando o que aprendemos na escola, é parte (inter)dependente.

Enquanto persistir a incapacidade do Homem de se perceber como parte de um sistema maior, que tece a teia da vida por meio da lei da ação e reação, não haverá solução.


A Humanidade está diante do ponto de mutação, da inevitável escolha entre o renascimento e a autodestruição. E parece não se perceber o sentido de urgência. Este parto depende da ampliação da consciência individual em escala global. Mudar a forma de pensar e de agir em todos os âmbitos. Certamente isto inclui uma nova forma de produzir, de consumir, de transitar. Gerar um sistema econômico e de trabalho que cuide de nosso bem estar físico, mental e emocional, bem como da qualidade de nossa interação social e com o ambiente a que pertencemos, base para que possa haver felicidade e perenidade. Que vida queremos viver? Para que? E até quando?

A magnitude da mudança desafia a própria natureza humana. Trata-se de superarmos a ilusão da fragmentação, e seu maior sintoma - o egoísmo cronico que caracteriza a época atual. Autoconhecimento para compreender e desenvolver o potencial humano em toda a sua magnitude. Resgatar a nossa essência. Somos somente um monte de carne dedicada a fazer dinheiro e a satisfazer necessidades fisiológicas básicas? Reconciliar a ciência com a religião. Ir além do materialismo. Somente como parte integrante do todo é que poderemos gerar um sentido de participação coletiva na construção e manutenção do novo modelo.


E a responsabilidade, é de quem? Dos governos? Das empresas, dos mercados? Qualquer forma de organização é feita por pessoas, algo óbvio mas constantemente esquecido. Ou melhor, ignorado. Carecemos de lideranças que possam ventilar a nova visão aos quatro ventos, e mobilizar as massas. Afinal, a
Terra continuará a sua jornada de bilhares de ano, a despeito de nossa ignorância. Somente mudando o humano mudaremos o mundo. E para isso, precisamos desenvolver a nós mesmos.