11 janeiro 2011

Na essência, sustentabilidade é uma questão de espiritualidade

Em recente post no blog "Nosso Futuro Comum", Claudia Chow comenta o novo filme "A Hora Final" e clama pela solidariedade para o alcance de uma sociedade mais sustentável.

Após 10 anos de atuação profissional com foco em políticas de sustentabilidade e temas "socioambientais" (de governos a corporações e ONGs), e passando por um intenso processo de auto desenvolvimento por meio da yoga e outras técnicas de autoconhecimento e ampliação da consciência, sinto como verdade em cada célula do meu ser que a abertura espiritual de cada um - com uma consequente projeção em escala global - é caminho inexorável para alcançarmos uma consciência mais ampla, a partir da qual poderemos modificar nosso propósito e modelo de vida. Somente munidos de uma nova visão é que poderemos colocar a economia e o mercado a favor da qualidade de vida e da felicidade das pessoas, ao invés da atual situação, em que somos escravos cegos de um sistema econômico que visa somente ao consumo e com ele caminhamos rumos à nossa própria destruição.

A análise de Claudia, abaixo, traz um retrato muito atual - e lúcido - da situação. Agora, vejamos - existe alguma outra forma de modificar o padrão ideológico predominante, que não passe por uma expansão e reconfiguração de cada um de nós no plano individual, projetando uma nova visão em larga escala para o plano coletivo? Se cada um fizer a sua própria revolução interna (autodesenvolvimento, ou seja, a suprema valorização do "Ser"), naturalmente passará a praticar - em seu trabalho, família, vizinhança e por onde mais passar - uma forma mais sustentável de vida - novos valores para novas práticas. Senão, quem fará por nós? Formamos a humanidade, e a mudanca tem que vir de dentro para fora, não há outro modo.
As três questões que mais intrigam o Homem, desde a mais remota época, são as clássicas "quem somos", "de onde viemos" e "para onde vamos"?. Porém, a busca pelas respostas tem sido delegada para a "Ciência", como se algum técnico de laboratório ou um astrônomo atrás das lentes pudesse nos trazer as respostas. Sem um propósito firme na vida e a noção de que cada um é responsável por tudo o que acontece consigo, e ciente também que tudo o que fazemos produz uma consequência - e que somos responsáveis, portanto, pelo que produzimos no mundo - falar em sustentabilidade acaba sendo mera retórica. Meditemos nesses conceitos. A meditação remove a ignorância ("não-saber"), traz clareza e verdade.

Post de Claudia Chow sobre "A Hora Final", em "Nosso Futuro Comum

"Os cientistas avisam que bilhões, vários bilhões de seres humanos, irão perecer e levar consigo outros tantos bilhões de seres vivos. Provável não ter mais saída. A razão para essa crença é que fazemos parte de uma teia interligada, somos totalmente dependentes dela e nós já a destruímos de forma irreversível em vários itens, polinização, água, solo fértil, clima e sequer cogitamos parar de destruir. E muitos se enganam sobre a forma para pararmos. Para piorar, a maior parte das pessoas – os comuns – está completamente inconsciente sobre o que está por vir. Já a classe dirigente, a superclass, temos duas categorias: os que sabem e fingem não saber e os que não sabem ou escamoteiam as ameaças com soluções tecnológicas impossíveis de se concretizar. Enfim, ainda somos regidos pela ganância, individualismo e ignorância sobre os elos vitais que nos trouxeram até aqui. Teríamos que mudar para solidariedade, coletividade e conhecimento imediatamente e em escala universal para conseguirmos nos adaptar às mudanças inevitáveis que vem pela frente. Isso está fora de questão. As pessoas ainda são muito cruas e incompletas para tal mudança. Não consigo festejar nem com os seminários que parecem raves e reúnem bacharéis em torno da sustentabilidade, porque só se fala muito sobre isso, mas sem nada concreto, muito menos uma mudança profunda e reversão total de valores dos que falam. Na verdade, continuamos com o pé no acelerador em direção ao precipício. Os principais projetos pelo mundo afora ainda são megaconstruções, crescimento populacional contínuo, obesidade e falta de saúde alarmantes, erradicação da pobreza através de disseminação do consumismo para todos com a indústria cuspindo estruturas insustentáveis como carros, aviões, armas, etc. a cada segundo. Todos agem como se o território do planeta fosse inesgotável para essa materialização contínua e o projeto econômico e político é sempre o mesmo, só que a cada vez maior velocidade. Não tem jeito. Nós iremos continuar nosso aprendizado de forma intangível, em outras dimensões, onde até ali poucos de nós irão se encontrar. Rezo para depois achar o sentido disso tudo, dessa perda de consciência de coletividade tão profunda que está por trás da nossa extinção iminente e do fim da vida nesse planeta. O que mais assusta é ver o risco de fim da água e da comida, dois itens sem os quais não teremos nada e dois itens que nada contribuímos para existirem. "