29 dezembro 2011

Balanço Ambiental de 2011 – Por Washington Novaes

Balanço Ambiental de 2011 – Por Washington Novaes


Ao se completarem 30 anos da Política Nacional de Meio Ambiente, o grande avanço certamente é a ampliação das consciência da sociedade em torno dos grandes problemas ambientais – que ainda precisa ser traduzida em ações pelo poder público.

Por Washington Novaes, jornalista, é supervisor geral do Repórter Eco. Foi consultor do primeiro relatório nacional sobre biodiversidade. Participou das discussões para a Agenda 21 brasileira. Dirigiu vários documentários, entre eles a série famosa “Xingu” e, mais recentemente, “Primeiro Mundo é Aqui”, que destaca a importância dos corredores ecológicos no Brasil.
Fonte: Repórter Eco

2011 termina com mais um motivo para inquietação, já que a reunião da Convenção do Clima na África do Sul não conseguiu aprovar nenhum compromisso obrigatório para os países reduzirem suas emissões de poluentes que agravam mudanças climáticas. E o último balanço diz que em 2010 elas chegaram a 30,6 bilhões de toneladas de carbono, já próximas do limite de 32 bilhões de toneladas; se ele for ultrapassado, dizem os cientistas, não será possível conter o aumento da temperatura da Terra em 2 graus Celsius – e os chamados desastres climáticos serão muito graves do que já são, atingindo dezenas de milhões de pessoas a cada ano. O Brasil já é um dos cinco maiores emissores do planeta, com mais de 10 toneladas anuais de carbono por pessoa.
Mesmo com todos os riscos, continuamos com mais de 5 milhões de pessoas morando em áreas sujeitas a desastres. E o município de São Paulo anunciou que só daqui a 30 anos livrará a cidade do risco de inundações. Já a Agência Nacional de Águas informou que mais de metade dos municípios brasileiros enfrentarão sérios problemas com abastecimento de água, se até 2025 não foram investidos 70 bilhões de reais. Na área do saneamento, o balanço do IBGE mostra que mais de 50% dos domicílios brasileiros não contam com rede de esgotos.
O ano foi marcado também por intensa polêmica em torno do projeto de novo Código Florestal discutido pelo Congresso. Organizações ambientalistas criticaram principalmente a anistia a proprietários de terras que desmataram áreas de reserva obrigatória, assim como a redução de áreas de preservação à margem de rios, encostas e topos de morros.
Segundo o Ministério do Meio Ambiente, o desmatamento na Amazônia continua acima de 6 mil quilômetros quadrados por ano. E o desmatamento já atingiu 18 por cento do bioma. No Cerrado e na Caatinga, a perda está acima de 50 por cento. Na Mata Atlântica, em 93 por cento.
Os dramas das cidades com o transporte se acentuaram. O país já tem cerca de 40 milhões de veículos. Só em São Paulo, mais de 7 milhões. Mas pouco se tem avançado na implantação de sistemas eficientes de transporte coletivo, que reduzam o número de veículos nas ruas e o nível de poluição do ar.
Já a área de energia foi marcada pela polêmica em torno da implantação da hidrelétrica de Belo Monte, na Amazônia, que chegou até a manifestações no exterior e na Organização dos Estados Americanos.
Começou a ser implantada a Lei Nacional de Resíduos Sólidos, que contém muitos princípios positivos, mas sem vinculação de recursos. E sem definir com clareza se será ou não permitida a incineração de lixo.
Ao se completarem 30 anos da Política Nacional de Meio Ambiente, o grande avanço certamente é a ampliação das consciência da sociedade em torno dos grandes problemas ambientais – que ainda precisa ser traduzida em ações pelo poder público.

15 dezembro 2011

A Economia da Felicidade

A Economia da Felicidade, por Jeffrey D. Sachs, professor de Economia na Universidade de Colúmbia, EUA NOVA IORQUE

"Vivemos numa era de alta ansiedade. A despeito da riqueza mundial sem precedentes, há uma vasta insegurança, inquietação e insatisfação. Nos EUA, uma grande maioria dos americanos acredita que o país está "no caminho errado". O pessimismo está nas alturas, e o mesmo se dá em muitos outros países. Diante desse contexto, é chegada a hora de se reconsiderar as fontes básicas de felicidade na nossa vida econômica. A incessante busca por mais renda está levando a uma desigualdade e ansiedade sem precedentes, em vez de a uma maior felicidade e satisfação com a vida. O progresso econômico é importante e pode de fato melhorar em muito a qualidade de vida, mas somente se for exercido em consonância com outras metas. Nesse respeito, o reino no Himalaia do Butão tem sido o pioneiro. Quarenta anos atrás, o Quarto Rei do Butão, jovem e recém empossado, fez uma notável opção: o Butão iria buscar a "Felicidade Interna Bruta" em vez do Produto Interno Bruto. Desde então, o país tem experimentado uma abordagem alternativa e holística para o desenvolvimento, que enfatiza não somente o crescimento econômico, mas também a cultura, a saúde mental a compaixão e o senso de comunidade. Dúzias de especialistas recentemente se reuniram na capital do Butão, Thimphu, para fazer um balanço do desempenho daquele país. Fui o co-anfitrião com o Primeiro Ministro, Jigme Thinley, um líder em desenvolvimento sustentável e um grande campeão do conceito de "FIB". Reunimos-nos na seqüência de uma declaração que foi feita em julho pela Assembléia Geral das Nações Unidas, que por sua vez convocou seus países membros para que examinassem como que suas respectivas políticas nacionais poderiam promover a felicidade em suas sociedades. Todos aqueles que se reuniram em Thimphu concordaram com a importância de que seja buscada a felicidade em vez da renda nacional. A questão que examinamos é como se alcançar a felicidade num mundo que está caracterizado pela rápida urbanização, mídia de massa, capitalismo global e degradação ambiental. Como que a nossa vida econômica pode ser re-ordenada para recriar um senso de comunidade, confiança e sustentabilidade ambiental? Em seguida listo algumas das conclusões iniciais. Primeiro não deveríamos denegrir o valor do progresso econômico. Quando as pessoas estão com fome, privadas das suas necessidades básicas, tais como água limpa, assistência medica e educação, e sem um emprego significativo, elas sofrem. O desenvolvimento econômico que mitiga a pobreza é um passo vital na promoção da felicidade.
Em segundo lugar, a incessante busca pelo aumento do PIB com a exclusão de outras metas também não é o caminho para a felicidade. Nos EUA, o PIB aumentou agudamente nos últimos 40 anos, mas a felicidade não. Em vez disso, a obcecada busca pelo aumento do PIB gerou maiores desigualdades de riqueza e poder, impulsionou o crescimento de uma vasta subclasse, aprisionou milhões de crianças na 2
pobreza, e provocou uma séria degradação ambiental. Em terceiro, a felicidade é alcançada através de uma equilibrada abordagem à vida tanto pelos indivíduos quanto pelas sociedades. Como indivíduos, ficamos infelizes se nos forem negadas as necessidades básicas materiais, mas também ficamos infelizes se a busca por maiores rendas substitui nosso foco na família, amigos, comunidade, compaixão e na manutenção de um equilíbrio interior. Como sociedade, uma coisa é organizar as políticas públicas para manter os padrões de vida ascendentes, mas outra bem diferente é subordinar todos os valores da sociedade na busca do lucro. Mesmo assim a política nos EUA tem cada vez mais permitido que os lucros corporativos dominem todas as demais aspirações: e de, justiça, confiança, saúde física e mental, e sustentabilidade ambiental. As doações feitas por corporações nas eleições cada vez mais corroem o processo democrático, com as bênçãos da Suprema Corte dos EUA. Em quarto, o capitalismo global apresenta muitas ameaças diretas à felicidade. Ele está destruindo o meio-ambiente natural através da mudança climática e de outros tipos de poluição, enquanto que a incessante torrente de propaganda da indústria petrolífera mantém muita gente ignorante disso. Ele está debilitando a confiança social e a estabilidade mental, com a prevalência de depressão clínica aparentemente em ascensão. Os meios de comunicação em massa se tornaram meros pontos de venda para as "mensagens" corporativas, e com isso os americanos sofrem de uma crescente gama de vícios consumistas. Considere como a indústria de fast-food usa óleos, gorduras, açúcar e outros ingredientes viciantes para criar uma insalubre dependência em alimentos que contribuem para a obesidade. Um terço de todos os americanos é obeso. E o resto do mundo irá eventualmente nos seguir a menos que os demais países restrinjam essas perigosas práticas corporativas, incluindo a publicidade de alimentos insalubres e viciantes para crianças pequenas. Mas o problema aqui não é apenas a alimentação. A publicidade de massa está contribuindo para muitos outros vícios, que por sua vez implicam em grandes custos de saúde pública, incluindo excesso de TV, jogatina, uso de drogas, tabagismo e alcoolismo. Em quinto, para promover a felicidade, precisamos identificar os diversos fatores além do PIB que podem elevar ou baixar o bem-estar da sociedade. A maioria dos países investe para medir o PIB, mas despende pouco para identificar as fontes de uma saúde sofrível (como fast-foods e excesso de TV), de uma declinante confiança social e da degradação ambiental. Uma vez que compreendamos esses fatores, podemos agir de acordo. A insana busca por lucros corporativos está nos ameaçando a todos. Na verdade, deveríamos apoiar o crescimento econômico e o desenvolvimento, mas somente num contexto mais amplo: que promova a sustentabilidade ambiental e os valores de compaixão e honestidade que são requeridos para a confiança social. A busca pela felicidade não deve ficar confinada àquele lindo reino montanhês do Butão. "

Jeffrey Sachs é Professor de Economia e Diretor do Earth Institute na Universidade de Colúmbia. Ele também é Conselheiro para o Secretário Geral das Nações Unidas no tocante às Metas de Desenvolvimento do Milênio.

06 dezembro 2011