10 março 2011

Reinventar o mundo ou a nós mesmos?

Artigo de Washington Novaes publicada esta manhã revela que bastaria 1,3 trilhão de dólares por ano para transformar a economia global numa "economia verde", segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. Pois é, com apenas 2% do PIB mundial seria teoricamente possível migrar do atual estado de extração predatória, produção poluente, consumo e descarte irresponsável para novas práticas que viabilizem o desenvolvimento sem destruir o nosso meio. Não é muito, se pensarmos que são gastos US$ 1,4 trilhão com orçamentos para “defesa” das nações em todo o mundo por ano.
(veja lista dos países que mais gastam com defesa em http://pt.wikipedia.org/wiki/Anexo:Lista_de_pa%C3%ADses_por_gastos_militares).

Longe de ser apenas um questão econômica, o que se demanda é uma mudança de foco – investimentos na paz por meio da construção da nova economia, sustentável e inclusiva, capaz de engrenar num movimento rumo ao desenvolvimento sustentável. “Apenas” US$ 420 bilhões são necessários por ano para solucionar a fome e os mais graves problemas sociais em todo o mundo - que são, afinal, a grande causa dos principais conflitos, instabilidades políticas e ameaças ao ambiente. Um ser humano sempre optará por sua sobrevivência - diante da miséria vale tudo para garantir a comida, mesmo que isso signifique destruir o meio em que vive, seja pela agricultura e extração predatória, poluição das águas, do solo, etc. Mas não estamos falando apenas de sobrevivência dos mais pobres, mas de ganância desenfreada de quem tem acesso e controle da riqueza.

Vejamos - se estes números são mais do que conhecidos, idem os problemas, idem as soluções possíveis, se temos os fóruns adequados para discutir articulações internacionais a altura destes desafios, conhecimento e tecnologia, por que simplesmente nada realmente consistente e decisivo é realizado para a mudança global? Pelo contrário, a destinação de recursos dos países ricos para ajudar a aplacar a miséria dos maios pobres tem diminuído para míseros 0,30% do PIB - não chega a meio por cento de toda a riqueza gerada no mundo!

Quanto mais trabalho com questões de sustentabilidade, mais vejo que a verdadeira reinvenção tem que partir de dentro para fora. Sempre que há uma reunião para discutir problemas comuns, começa o jogo de empurra, a defesa dos interesses particulares, a fatiação da solução. Esse atual estado do mundo - equivocado, ignorante e até mesmo esquizofrênico, é reflexo das pessoas vivendo em sociedade e que simplesmente não se identificam com seu meio. Vivem iludidas, achando que o meio está ali para lhes servir sem limites.

De um modo geral, as pessoas estão identificadas demais com seus próprios interesses, e no topo da lista estão sempre aspirações puramente materialistas. O que importa é ter, cada vez mais. Claro que todos nós queremos prazer e conforto, a questão é: qual o limite? E quais os meios para alcançá-lo? É raro haver um senso de propósito ou de real significado para o que quer que seja (a atenção ao Ser está esquecida, ou muito pouco lembrada).

Quem tem poder político e econômico para gerar grandes transformações, em geral não está disposto a abrir mãos de nada importante em benefício do bem estar comum. Muitos “grandes líderes” não se importam com as conseqüências de suas decisões, e ainda tentam escamotear a realidade. É triste. Mesmo que isso signifique acabar com tudo, com nossa própria qualidade de vida, nos condenando a uma vida miserável e colocando em risco o que conquistamos.

Para reinventarmos o mundo, o que precisamos é partir de uma autotransformação – novos pontos de vista, novas visões de mundo, resgate de valores universais, pois somos seres universais. Não dá para reinventar nada com base em visões que deveriam estar ultrapassadas. O que é realmente importante para todos? Queremos de fato um mundo sustentável? Queremos mesmo ser felizes? Como buscamos esta felicidade? Para que estamos fazendo tudo o que fazemos? Conforme me disse em querido professor e sábio mestre – somos seres espirituais, vivendo uma existência material, e não seres materiais com ocasionais vivencias espirituais. É mudar tudo ao mesmo tempo, nós e o mundo, sentir e pensar diferente para agir diferente. Esta mudança requer o resgate de nossa dimensão humana e o acordar para todas as nossas potencialidades, só assim poderemos nos reconhecer como parte deste meio e agir (naturalmente) para o uso dos enormes e maravilhosos recursos de que dispomos, sem destruir.

Cada um de nós deve se conhecer em profundidade para compreender seu real papel neste mundo, para poder viver de acordo com seus próprios valores, assim será mais fácil encontrar a maneira certa de agir e tomar as decisões que beneficiem o todo. Não precisamos mudar sete bilhões de pessoas, mas criar uma massa crítica de lideranças e multiplicadores para fazer a grande e necessária transformação acontecer. Este é um processo que começa com cada um cuidando de si e influenciando os demais, não adianta querer delegar para a ONU ou a OMC.

Veja a íntegra do artigo de W. Novaes em:

http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,reinventar-o-mundo--a-tarefa-da-rio--20,687748,0.htm