10 janeiro 2013

A GRANDE FALÁCIA DO COMPORTAMENTO AMBIENTAL ORGANIZACIONAL.

Um profundo desabafo, por Renato Manzano - http://www.facebook.com/renato.aa.manzano

Assino embaixo deste artigo do amigo e parceiro de trabalho:

"Fico perplexo quando vejo uma empresa aérea anunciar que recicla copinhos, uma mineradora dizer que planta milhares de árvores todo ano, um banco afirmar que faz relatório em papel parcialmente reciclado ou uma indústria química dizer que sensibiliza os empregados em sustentabilidade etc, e gastarem milhões de dólares em publicidade para, ao final, em tom emocional e demagógico, declarar que "é a empresa tal ajudando o planeta". São casos reais. Tenho vontade de vomitar! Se reduzissem efetivamente seus impactos na operação de modo dramático, o que custa alguns bilhões, teriam algum crédito. Vamos deixar o bom mocismo nojento de lado e vamos aos fatos: Muitos CEOs mentem, descaradamente. Alguns dos vídeos e documentos que vi nos últimos tempos não se sustentam por cinco minutos de apresentação de fatos e dados. As mais poluentes empresas do planeta não estão levando a sério a questão e limitam-se a maquiar números e fazer mudanças no limite do risco da pressão social, evitando-a - o que não é algo estrutural e suficiente. É menos de 5% do que precisaria ser feito. Mas isto é, por outro lado, o suficiente para sustentar a indústria da divulgação maciça do pseudo bom comportamento ambiental, no qual enriquecem, sobrevivem e se locupletam um número cada vez maior de nomes respeitáveis que pegaram uma carona na onda do "engana que eu te ajudo". Gente inteligente, capaz, que sabe no fundo da alma o que está fazendo e que parece ter desistido e aderido ao curto prazismo devastador em troca de dinheiro, contra o qual eu não tenho nenhum preconceito desde que seja ganho com honradez, competência e ética social. Como esses pastores picaretas das igrejas comerciais, ajudam a aplacar a angústia da patuléia, ganhando com isso bons (acho até que nem tanto), trocados. Nenhum deles gasta um pingo de saliva para tentar mudar a cabeça e o coração do gestor, do CEO e dos acionistas ( esse é o trabalho que EU faço) e se limitam a vender facilidades, divulgar e criar espaço para aquilo o que as empresas querem dizer, não se preocupando ou fazendo nenhum check sobre a veracidade das informações. Não educam os clientes. Alguns são mesmo tolos e acreditam no que estão fazendo, pressupondo que grandes marcas jamais dariam um furo desses. Huummm! Ambos, vendidos ou ingênuos bem intencionados, atrapalham uma barbaridade. Dou menos de uma década para terem seus nomes no lixo. A Rio+20 foi um grande exemplo de uma manipuladora vitrine para o gado bem intencionado. (O presidente de uma grande empresa de comunicação ligada ao evento confidenciou que uma fundação norte americana não conseguiu sequer zerar o footprint da sua participação, apesar de ter divulgado o contrário, e que um grande cliente "verde" no Brasil, reuniu às pressas projetos dos últimos vinte anos para maquiar um prospecto e um hotsite "para ter o que mostrar" etc) Fiasco. Falta de ética. Demagogia. Como os fiéis das igrejas, não posso criticar a fé, mas alertá-los de que talvez estejam sendo ludibriados, apesar de terem participado ardorosamente e com emoção dos cultos da conferência. 
Ocorre porém, que, ano após ano, desde a década de 1990, os maiores centros de climatologia do planeta, entre eles o Max Planck (Hamburgo), o Halley Centre (Reino Unido), o Lawence Livermore (Energy Departament CA, USA), Goddard Institute NY (NASA), Boulder - Colorado, Oregon University, NOAA (Princeton), além dos fundamentais estudos consolidados do IPCC (Prêmio Nobel), confirmam que o aquecimento global poderá se transformar no mais catastrófico evento jamais enfrentado pelo homem e todas as demais espécies. Em quarenta ou cinquenta anos poderemos elevar a temperatura do planeta em até 1oC, e se nada for feito, em até 4oC em 100 ou 200 anos - o que seria uma absoluta hecatombe climática planetária! A Terra é um biossistema extremamente delicado; para se ter uma idéia as eras glaciais naturais ocorreram com variações, para menos, de apenas 3oC a 6oC (a última foi há 20.000 anos atrás), alterando para sempre, a cada uma delas, a vida sobre o planeta. Hoje, produzimos as maiores médias de aquecimento planetário dos últimos 150 mil anos!, segundo o astrônomo Carl Sagan. As consequências do aquecimento global vão desde a extinção em massa de espécies, cataclismas levando à morte milhões de pessoas, doenças em massa em escala global, redução da produção de alimentos e guerras violentas e de largo alcance associadas ao domínio de recursos essenciais como água e terras agriculturáveis (fome, peste, guerra e morte lembram alguma coisa, não?). Em termos econômicos, como em todas as dimensões, creio que todos concordamos que o problema já começou há décadas e hoje sentimos seus efeitos como, p ex, o recrudescimento de grandes catástrofes climáticas. Apenas para citar um: o furacão Andrew causou perdas de mais de US$ 50 bilhões, em 1992, medido pelo mercado de seguros. Cerca de US$ 120 bilhões, em média, anualmente, são perdidos em catástrofes climáticas apenas nos EUA, consolidando dados de fontes diversas. Enfim, esse discurso polido das organizações não ajuda em nada, pelo contrário! A prova maior de que o tema não está na veia, no coração, é que durante a crise econômica as dotações para pesquisa e desenvolvimento ambiental caíram dramaticamente. Empresas concentraram o budget em atividades produtivas tradicionais - a maioria delas fortemente impactantes do meio ambiente. Nos próximos 20 anos não se recuperará o nível de investimento projetado antes da crise e grande parte dos recursos ajudará a financiar o aumento da produção e os mecanismos " necessários" para garantir o aumento do consumo 'per capita' em escala global. "Mas peraí, Manzano, disse-me um financista, o ano passado: "é uma questão de sobrevivência". Falta a ele e aos meus colegas desgarrados compreender que sobreviver está ligado à Vida e que a Vida não é um projeto mesquinho de curto prazo mas que envolve gerações; plantar para nossos filhos, netos, bisnetos... Como fazê-lo se a maioria dos CEOs ( reportagens de Exame, p ex, comprovam isso anualmente através das matérias sobre remuneração de altos execuivos), têm um projeto em comum: enriquecer rapidamente, em poucos anos, não importa como, esta é a verdade. Preciso citar exemplos reais? Assim vamos mal. Mas ainda não acordamos para o fato de que tomamos doses diárias de veneno. O planeta sobreviverá por bilhões de anos. Nós é que precisamos nos preocupar já, pois a sobrevivência da humanidade já está em situação de risco."

2 comentários:

  1. Muito verdadedeiro e corajoso o seu texto, Clarissa! Acabo de compartilhar no meu timeline do facebook. As pessoas não podem se furtar a discussões de máxima relevância como esta. Afinal somos pessoas ou avestruzes?

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    1. Caríssimo(a), obrigada e ressalto que a autoria do texto é do querido amigo Renato Manzano.

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