Balanço Ambiental de 2011 – Por Washington Novaes
Ao se completarem 30 anos da Política Nacional de Meio Ambiente, o grande avanço certamente é a ampliação das consciência da sociedade em torno dos grandes problemas ambientais – que ainda precisa ser traduzida em ações pelo poder público.
Por Washington Novaes, jornalista, é supervisor geral do Repórter Eco. Foi consultor do primeiro relatório nacional sobre biodiversidade. Participou das discussões para a Agenda 21 brasileira. Dirigiu vários documentários, entre eles a série famosa “Xingu” e, mais recentemente, “Primeiro Mundo é Aqui”, que destaca a importância dos corredores ecológicos no Brasil.
Fonte: Repórter Eco
2011 termina com mais um motivo para inquietação, já que a reunião da Convenção do Clima na África do Sul não conseguiu aprovar nenhum compromisso obrigatório para os países reduzirem suas emissões de poluentes que agravam mudanças climáticas. E o último balanço diz que em 2010 elas chegaram a 30,6 bilhões de toneladas de carbono, já próximas do limite de 32 bilhões de toneladas; se ele for ultrapassado, dizem os cientistas, não será possível conter o aumento da temperatura da Terra em 2 graus Celsius – e os chamados desastres climáticos serão muito graves do que já são, atingindo dezenas de milhões de pessoas a cada ano. O Brasil já é um dos cinco maiores emissores do planeta, com mais de 10 toneladas anuais de carbono por pessoa.
Mesmo com todos os riscos, continuamos com mais de 5 milhões de pessoas morando em áreas sujeitas a desastres. E o município de São Paulo anunciou que só daqui a 30 anos livrará a cidade do risco de inundações. Já a Agência Nacional de Águas informou que mais de metade dos municípios brasileiros enfrentarão sérios problemas com abastecimento de água, se até 2025 não foram investidos 70 bilhões de reais. Na área do saneamento, o balanço do IBGE mostra que mais de 50% dos domicílios brasileiros não contam com rede de esgotos.
O ano foi marcado também por intensa polêmica em torno do projeto de novo Código Florestal discutido pelo Congresso. Organizações ambientalistas criticaram principalmente a anistia a proprietários de terras que desmataram áreas de reserva obrigatória, assim como a redução de áreas de preservação à margem de rios, encostas e topos de morros.
Segundo o Ministério do Meio Ambiente, o desmatamento na Amazônia continua acima de 6 mil quilômetros quadrados por ano. E o desmatamento já atingiu 18 por cento do bioma. No Cerrado e na Caatinga, a perda está acima de 50 por cento. Na Mata Atlântica, em 93 por cento.
Os dramas das cidades com o transporte se acentuaram. O país já tem cerca de 40 milhões de veículos. Só em São Paulo, mais de 7 milhões. Mas pouco se tem avançado na implantação de sistemas eficientes de transporte coletivo, que reduzam o número de veículos nas ruas e o nível de poluição do ar.
Já a área de energia foi marcada pela polêmica em torno da implantação da hidrelétrica de Belo Monte, na Amazônia, que chegou até a manifestações no exterior e na Organização dos Estados Americanos.
Começou a ser implantada a Lei Nacional de Resíduos Sólidos, que contém muitos princípios positivos, mas sem vinculação de recursos. E sem definir com clareza se será ou não permitida a incineração de lixo.
Ao se completarem 30 anos da Política Nacional de Meio Ambiente, o grande avanço certamente é a ampliação das consciência da sociedade em torno dos grandes problemas ambientais – que ainda precisa ser traduzida em ações pelo poder público.
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