Desde que voltei a trabalhar no mercado corporativo têm sido mais raros os momentos em que consigo dedicar tempo para escrever. Então, aproveito a brecha entre Natal e Ano Novo!
Em meio a esta vida frenética que se vive hoje – pelo menos nas cidades – o que acaba me preocupando mais é a falta de tempo para Ser, já que a todo o tempo temos que fazer, fazer, fazer. Esta questão de “viver uma vida que valha a pena” tem sido muito presente em mim - de fato, a maior preocupação que sinto não é mais ter isto ou aquilo, mas viver a vida de um modo que possa aproveitar a “dádiva” que é estar viva. Para isto é preciso limpar da mente e do coração um bocado de ilusões, já que em meio a tantas tarefas a cumprir, contas a pagar, expectativas dos outros a atender, toda a forma de estresse para lidar - trânsito, poluição, lixo e barulho por toda a parte - muitas vezes, a vida pode parecer mais uma condenação.
Depois de quase 10 anos de yoga e muita terapia, vejo claramente que a paz interna é o grande alicerce para a felicidade mais duradoura - um estado de ser que permanece apesar das flutuações do dia-a-dia e dos fatos e acontecimentos mais corriqueiros. E a maior parte desta paz chega quando vai embora o medo – em todas as suas formas. A paz toma o espaço antes ocupado pelo medo e traz uma sensação de rara liberdade e fé na vida.
Nos últimos anos, passei por muitos acontecimentos difíceis, muita lapidação, e junto com a superação do sofrimento alcancei um estado bem mais destemido e equânime.
Por certo que o bem estar ainda depende em grande parte do que acontece (ou deixa de acontecer), mas acho que conquistei um eixo que já não balança mais por qualquer vento. Também deixei de ser pautada por tanta ambição, hoje o que me motiva são certas aspirações, tudo muito mais ligado ao Ser mesmo – e talvez o único medo que tenha permanecido é o de não aproveitar a vida de verdade - o medo de desperdiçar a vida!
A rotina corporativa consome muito, os objetivos e motivações são na essência egoístas. Até mesmo as iniciativas aparentemente altruístas são, na maioria das vezes, mais algum meio para se atingir um determinado fim, que na ponta do processo será sempre mais vendas, incentivo ao consumo ou dividendos (para alguém que nem conhecemo, claros!) Por isso que valorizo tanto um dia-a-dia aprazível, cultivar o bem estar nas míninas coisas do cotidiano. Ter paz em casa é fundamental. E manter a atenção ao propósito e significado das nossas ações, para não perder o senso crítico do que se está fazendo e para quê.
Este campo da “sustentabilidade corporativa” traz um mar sem fim de discursos demagógicos e procedimentos burocráticos. Sim, com o diria o José Simão, “tucanaram” a sustentabilidade! Hoje é fácil encontrar alguma ferramenta ou novas tecnologias “às pencas” que se prestam a apontar soluções para questões que poderiam ser resolvidas pelo simples bom senso. É preciso muito foco e desapego para não se perder em meio a parafernália de tranqueiras tecnológicas, indicadores, ISOs, regulamentações, “conformidades” (leia-se: estar de acordo com a burocracia). Isso sem falar dos colegas que trabalham com “sustentabilidade” e que se acham acima dos outros mortais – esta talvez seja a faceta mais triste desta história – a pretensa busca pela sustentabilidade tem servido para inflar mais ainda os egos e ao invés de unir pode separar ainda mais as pessoas.
É por isso que considero como fundamental - para qualquer um - especialmente para aqueles que pretendem liderar iniciativas voltadas ao desenvolvimento sustentável – que cuidem em primeiro lugar da sua ecologia interna – busque se conhecer de verdade, cuidar da sua alimentação, da qualidade dos seus pensamentos e sentimentos, da qualidade das suas atitudes e das relações com os outros, nos diversos aspectos da vida. Por que fica impossível se importar com a reciclagem do lixo em casa quando não se percebe ao menos quanto lixo que é absorvido diariamente devido a este estilo de vida entoxicante que a maioria das pessoas tolera, e que deixamos o sistema perpetuar.
Estou cada vez mais convencida de que o desenvolvimento da espiritualidade é a chave para a sustentabilidade tão almejada – pois se cada um se conectar a si mesmo e conseguir reconhecer a presença divina no mundo, passará a se identificar com os demais, deixando fluir o amor a agindo com mais solidariedade. Então, fazer a coisa certa passa a ser a opção mais natural. Este tema dá uma tese e será pauta para os próximos artigos.
Um Feliz 2011 a todos!
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